Não é de hoje que os bancos estão “investindo” em um novo formato de agência bancária. Até a denominação está sendo alterada porque eles insistem em chamar de “lojas”. Mas qual a diferença entre “loja” e agência e porque os bancos estão tão empenhados em transformar as agências em “lojas”?
Como se sabe, muitas mudanças vêm acontecendo no sistema financeiro há anos, tanto por parte das instituições bancárias quanto por parte dos clientes. Um dado que merece destaque aqui é que, durante a pandemia, o movimento nas agências caiu mais de 70%. Os clientes acabaram se voltando aos canais digitais, que chegaram a representar 74% das transações de pessoas físicas, segundo a Febraban. O internet banking e o mobile banking chegaram a totalizar 98% das operações no Bradesco, por exemplo. E há uma forte tendência de que essa mudança siga após o período pandêmico.
Diante dessa mudança de comportamento dos clientes, o movimento dos bancos nesse sentido de “modernização” se intensificou. Mas por quê? Porque os custos para se ter “lojas” são bem menores do que para manter as agências. Uma agência, segundo o Estatuto da Segurança Privada, deve ter vigilantes, porta giratória, enfim, equipamentos de segurança.
A segurança dos funcionários e também dos clientes dos bancos ficará comprometida sem a obrigatoriedade da porta giratória. Os assaltos sempre aconteceram, mesmo com equipamento de segurança. Caso as lojas sigam funcionando sem a porta, todos ficarão expostos ao risco de assaltos. O único objetivo das lojas funcionarem sem porta giratória é reduzir os custos dos bancos que mostram, com essa atitude, não se importarem com a segurança dos trabalhadores nem dos seus clientes.
Já a loja é um novo modelo de negócio onde o cliente tem acesso aos serviços que interessam aos bancos, tais como a venda de produtos como capitalização, seguros, cartões de crédito e operações de crédito. Assim, deixam de prestar serviços nos atendimentos dos caixas físicos. Além disso, há grande oferta das plataformas digitais. Com essas medidas, eles buscam reduzir custos. Os novos modelos de agências não necessitam de portas giratórias, por exemplo, o que ajudaria na redução de custos dos bancos.
Portanto, fica claro que o interesse dos bancos em transformar as agências em lojas é reduzir os custos e aumentar ainda mais seus lucros gigantescos. Em um ano, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander fecharam 1.647 agências físicas, segundo dados divulgados nos balanços do segundo trimestre das empresas.
E a diminuição destes postos de trabalho geram, consequentemente, muitas demissões. O Banco do Brasil, por exemplo, demitiu quase 7 mil funcionários, enquanto o Bradesco, 9,4 mil. Itaú e Santander contrataram 810 e 78 colaboradores, respectivamente. No período, o total foi de 15.493 demissões nestes bancos.
O Banco do Brasil cortou 390 agências em um ano, o Bradesco, 999, o Itaú, 114, e o Santander, 144, de acordo com dados divulgados no balanço de resultados das empresas.
São essas medidas adotadas pelos bancos que explicam os gigantescos lucros que crescem anualmente. O fechamento dos postos de trabalho e o de agências são duas das principais causas do lucro dos bancos nos últimos meses.
Na base da Fetrafi-SC, em Santa Catarina, já existem movimentos do Santander e Itaú para implantarem esse novo formato de agência. O Bradesco, por sua vez, já adaptou algumas agências na capital catarinense e o Banco do Brasil já está atuando com este novo formato no interior do estado.
Avaliação do movimento sindical
Para o movimento sindical, uma das principais consequências desse novo modelo de agência que os bancos estão querendo implantar reflete na segurança bancária. Os bancos estão utilizando métodos para reduzir custos através da adaptação das agências bancárias para esse novo formato, retirando o dinheiro das “lojas” para fugir das leis de segurança (sem vigilantes, sem portas giratórias). Mas, por desempenhar funções de agência, acaba atraindo um risco igualmente, o que coloca os funcionários e clientes em risco.
“O modelo de negócios dos bancos está na contramão do papel que o sistema financeiro deveria cumprir em um país como o nosso, com tamanhas desigualdades regionais e sociais. Não é possível o crescimento econômico sustentável a partir da exclusão do sistema da imensa maioria dos trabalhadores assalariados e na informalidade, além dos pequenos e médios produtores e empresários brasileiros,” avalia o representante de Santa Catarina no Comando Nacional dos Bancários e dirigente do Sindicato dos Bancários de Florianópolis e Região, Marco Silvano.
Para o dirigente, o modelo dos bancos privilegia a alta renda, especuladores e grandes empresas. No entanto, o que o país precisa é de um sistema financeiro inclusivo que possibilite o investimento no setor produtivo e que gere desenvolvimento, empregos e renda.
“O novo modelo de agências tem o objetivo de atender apenas aos mais ricos, impondo à sociedade taxas abusivas de juros e produtos voltados à especulação financeira. Por isso, é extremamente importante fortalecer os bancos públicos para atender todas as regiões em todos os municípios, oferecendo acesso ao crédito com juros menores e produtos voltados ao investimento produtivo no campo e nas cidades”, concluiu.
Com informações do UOL
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